Ao decidir aceitar uma oferta para jogar na Rússia pelo MFK Norilsk Nickel, encerrando uma frutífera passagem de 10 anos pelo Joinville, Willian tinha muitas coisas a considerar sobre os muitos ajustes que teria que fazer. “Ganhar experiência internacional” e “arriscar um pouco antes da Copa do Mundo” estavam em primeiro plano em sua mente. Mas, em uma nota pessoal, ele teria que suportar seis meses sem conseguir pegar uma onda.
E, logicamente, isso também não vai acontecer no Uzbequistão! Aqui, ele está focado em transformar o gol brasileiro em uma fortaleza para realizar um sonho compartilhado com um grupo de veteranos que se conhecem há anos e entendem que isso é agora ou nunca.
Em um cenário ideal, Willian retornaria ao seu país com o troféu da Copa do Mundo de Futsal da FIFA™ e, por que não, visitaria qualquer destino costeiro acessível para se reconectar com o mar. Primeiro, no entanto, ele deve enfrentar Costa na quadra nas oitavas de final na terça-feira.
FIFA: Como você se sente agora, depois das excelentes atuações do Brasil na fase de grupos?
Willian: É minha segunda Copa do Mundo, e muitos aqui também estavam na Lituânia. Naquela Copa do Mundo, eu conhecia os jogadores, mas não tive muito contato com eles antes do torneio. Fui convocado muito perto da Copa do Mundo. Foi diferente dessa vez. Há um sentimento de que o time é muito, muito unido e há muitas amizades aqui que remontam a muito tempo. Tem sido legal. Claro que há muita pressão em representar o Brasil, mas nos preparamos bem para isso e acho que faz parte, digamos, de carregar esse fardo. Você tem que saber como lidar com isso.
A construção do time começa pelo goleiro, e o Brasil trouxe três grandes para a Copa do Mundo. Como é o relacionamento entre vocês três?
O Brasil sempre foi muito bem servido por seus goleiros. Nós três tivemos carreiras muito bem-sucedidas. Eu sou o mais novo dos três. Só conheci o Roncaglio mais recentemente, mesmo ele sendo de perto da minha cidade. Eu o vejo jogar desde que ele era jovem. O Guitta é um ídolo no Brasil. Ter esse tipo de amizade com ele, compartilhar ideias e experiências, é muito legal. Nossa relação é a melhor que você pode ter, de máximo respeito. Essa é a base do sucesso, certo? Estamos aqui com o objetivo de sermos campeões do mundo. Estamos lutando pelo sonho dos nossos companheiros, então precisamos ter um forte comprometimento com o elenco.
Guitta venceu a Copa do Mundo em 2012 e tem imenso respeito no mundo do futsal. Quão importante ele é no elenco?
Ele tem muita experiência. Começou muito cedo na seleção e sempre fez parte de times muito bons, primeiro no Brasil e depois no exterior. Teve uma carreira muito vitoriosa que continua até hoje. Hoje jogo contra ele na Rússia, vejo isso de perto. Agora tenho essa felicidade muito grande de poder trabalhar com ele em um momento tão importante da minha carreira. A gente tem conversado muito desde que começou a Copa do Mundo.
Roncaglio pagou uma taxa enorme do próprio bolso para rescindir seu contrato com o Anderlecht e estar aqui. O que você achou disso?
O que ele fez foi espetacular. Não conseguíamos entender realmente a motivação do clube. Ele fez algo enorme, mostrando o desejo que tinha de estar aqui conosco. Isso só aumenta a responsabilidade sobre nós. Vou lutar o máximo que puder pelo sonho dele de se tornar um campeão mundial.
Como foi ser eleito o melhor do mundo na sua posição? Como você recebeu a notícia?
No dia do anúncio, eu estava descansando. Quando acordei, tinha um monte de mensagens no meu telefone. Achei estranho, pois estamos em um fuso horário diferente. Mas vi que tinha vencido. Liguei para minha esposa, pois é um sonho que compartilhamos como família. Todos ficaram emocionados. Depois, também fiquei muito feliz em receber os parabéns de alguns grandes goleiros, como Gustavo, que jogou pela Rússia e com quem trabalhei na temporada passada. Ele me enviou uma mensagem dizendo ‘Bem-vindo à lista’. É muito legal estar lá com todos esses grandes nomes.
Você recebeu o prêmio graças ao seu último ano jogando pelo Joinville. Quando decidiu jogar na Rússia, houve alguma preparação que você precisou fazer para uma mudança tão grande em um ano de Copa do Mundo?
Sempre quis a oportunidade de jogar no exterior e, ao mesmo tempo, ganhar mais experiência. Não podia mais adiar, e precisava dar esse passo. Com a Copa do Mundo em mente, queria jogar contra grandes jogadores e ver outros estilos de jogo por mim mesmo. Foi uma decisão bem pensada. Eu me diverti muito em Joinville, mas era hora de fazer a pausa e correr esse risco. Mas não tivemos uma ótima temporada na Rússia. Não chegamos à final, eu estava machucado e tive dificuldade de me adaptar. Fiquei ansioso, mas no final deu tudo certo. A confiança depositada em mim pelo Fred também foi crucial. Trabalho com ele há muito tempo, desde que cheguei em Joinville, aos 18 anos. Então eu disse que, na medida do possível, faria o que fosse necessário. Desisti do meu tempo de férias. Aproveitei o espaço de fisioterapia do Wilson Junior em Jaraguá do Sul, que é um dos melhores do Brasil, e me dediquei a trabalhar com o Fred lá.
Você tem parentes envolvidos no futsal, incluindo Leo, seu primo, que está aqui na Copa do Mundo com o Cazaquistão. Você teve tempo de falar com ele?
Comecei a jogar futsal por causa de um tio meu, que é pai do Leo Jaraguá. Também tenho outro primo profissional, o Daniel Rosa, irmão dele. Comecei com uns seis anos. Mas o Jaraguá do Sul sempre teve um time muito forte e uma base muito forte, então com 14 anos eu já jogava mais. Tinha uma estrutura boa, comecei a ganhar e entendi que poderia ser uma profissão. Mas mesmo sendo meus primos de primeiro grau, éramos distantes. Ele era mais velho e saiu do Brasil muito cedo para ir para o Cazaquistão, quando eu estava terminando a base. Mas acabamos jogando juntos no Joinville e criamos uma relação muito mais próxima. É um sentimento diferente, é como uma família. A gente sempre se fala por vídeochamada. Ele tem dois filhos, eu tenho um filho. As crianças jogam juntas, a gente cria um vínculo. Ele até fica um pouco bravo comigo porque o filho dele quer ser goleiro (risos) . Ele fala: ‘É brincadeira! É só porque ele gosta de você’. Estou torcendo muito por ele. Ele se machucou na véspera da última Copa do Mundo. Foi muito triste, mas agora ele está realizando seu sonho.
Sabemos o quanto você gosta de surfar. Quão importante é esse segundo esporte na sua vida?
Sempre gostei de skate, BMX e todos os tipos de esportes radicais. Sempre foi mais a minha vibe, o meu tipo de gente, digamos assim. Descobri o surfe através do meu sogro, que é de Balneário Camboriú. Minha esposa e eu começamos a namorar muito novos, e íamos direto para a praia. Ele me ensinou a surfar. Morando em Jaraguá do Sul e Joinville, é muito perto. Eu gostava muito. Então posso te dizer agora que aqueles seis meses que passei fora do Brasil foram muito difíceis. Não era possível na Rússia e o surfe tinha sido uma coisa grande na minha vida. Em um fim de semana, ou às vezes durante uma pausa no meio da semana, eu surfava na praia. Sempre me ajudou muito, se estou passando por um momento estressante ou algo assim. Quem surfa sabe do que estou falando. É uma sensação muito boa. Claro que, como atleta de alto rendimento, a gente sempre quer melhorar um pouco a técnica. Mas tem que ter cuidado (risos) . Nunca parei de praticar.
Quem sabe, se você ganhar a Copa do Mundo, ainda sobra tempo para voltar ao Brasil e curtir o mar?
Talvez tenha alguma comemoração, não sei. Se a gente voltar para o Brasil, eu aproveitaria uns dias antes de voltar para a Rússia, né? Lembro que na preparação em Teresópolis a gente teve um dia de folga, e eu consegui ficar com a família no Rio de Janeiro. Eu falei pra minha mulher: ‘Vamos pra praia! Nem pensar no Cristo Redentor, nada disso (risos) . Vamos pra um hotel na praia e ficar o dia inteiro lá’. Eu precisava. O mais difícil foi ver as pessoas surfando na minha frente. Brinquei que ia alugar uma prancha (risos) . Mas me segurei. Se Deus quiser, a gente volta e aproveita um pouquinho. Seria ótimo.