A cada vez em que Léo Higuita interrompia uma ação espanhola em grande estilo, o goleiro do Cazaquistão acenava com os braços em sintonia com uma enorme quantidade de torcedores do país presentes no ginásio em Andujon. Isso era quando vibrava, sem precisar ser tão rápido como vinha sendo diante dos jogadores espanhóis durante 40 minutos. A verdade é que, depois de levar o gol de Jesus Gordillo, é como se o veterano tivesse acimentado seu gol.
Com um rosto que irradiava felicidade, o camisa 2 do Cazaquistão conversou com a FIFA para falar sobre sua estreia espetacular pela Copa do Mundo de Futsal da FIFA Uzbequistão 2024 ™ para tentar nos explicar o que foi sua resistência diante da poderosa Espanha e, depois, narrar com orgulho o quanto precisou suportar — também — tantas dores, incômodo e tantos dias de dúvidas para simplesmente poder jogar o torneio.
“Há um ano e oito meses sofri uma lesão na coluna, e teve um tempo em que minha ideia era apenas ter uma vida normal. Já não pensava mais no futsal, apenas em superar no dia a dia o que não estava conseguindo”, disse.
“E estar aqui um ano e oito meses depois, poder fazer boas defesas e ajudar o time nos momentos difíceis para mim é uma pequena vitória na minha carreira.”
Não surpreende, então, que aos 38 anos ele pareça um estreante no esporte. A despeito de todos o esforço que havia feito em quadra e do tempo que gastou para retribuir o carinho demonstrado pelos milhares de cazaques que compareceram ao jogo, Higuita foi quem apareceu primeiro para atender aos jornalistas presentes. Ele sorria e cumprimentava a todos, sem demonstrar o menor cansaço.
Em quadra, foram 21 vezes que os espanhóis buscaram um gol e que as jogadas terminavam com o narrador anunciando uma defesa de do arqueiro. Sim, foi um dia no qual o ídolo cazaque relembrou ao mundo do futsal que, embora seja considerada uma figura revolucionária por outros fundamentos, ele está ali, principalmente, para fechar o gol, mesmo.
“Muita gente pensa que é só jogar com o pé, mas ele já foi cinco vezes o melhor do mundo e não foi só por isso. Higuita está num momento de serenidade. Ele tem muita experiência e lê muito bem os jogos. Isso o ajuda a ter dias como esse contra a Espanha”, analisou o técnico Kaká, brasileiro comandante do Cazaquistão.
E aí coube ao ala Gordillo, o único que perfurar a muralha cazaque, fazer talvez a melhor síntese possível o que havia se passado naquela partida, do ponto de vista espanhol: “Foi uma situação de querer e não poder ter”, disse. “Mas conhecíamos o goleiro que tínhamos pela frente.”
A Espanha pode não ter saído com os três pontos, mas ao menos Gordillo pode dizer que seu primeiro gol numa Copa do Mundo de Futsal da FIFA foi contra uma lenda.
Leonardo De Melo Vieira Leite, que depois ganharia o apelido em referência ao folclórico goleiro da seleção colombiana de futebol que marcou época nos anos 90, é um carioca que deixou o Brasil há mais de uma década, construindo carreira e uma vida no Cazaquistão.
Neste início de Copa do Mundo, não é que um goleiro de seu quilate precisasse, mas ele também não vai negar que o apoio da multidão de torcedores na arquibancada tenha influenciado em seu rendimento.
“Esperávamos que os torcedores aparecessem, mas não esperávamos que fossem tão barulhentos. Eles foram definitivamente o sexto jogador. Estou muito orgulhoso deste momento para o futsal do Cazaquistão. Estamos crescendo muito e fazer parte deste processo é uma fonte de orgulho”, disse. Para quem ficou meses afastado desse público e dessa adrenalina, Higuita obviamente não perderia a chance de mostrar em quadra o quanto transbordava de energia e alegria.
“A cada defesa preciso me motivar, preciso transmitir confiança a meus jogadores. Quero que eles olhem para trás e se sintam confiantes. Estou muito feliz por transmitir essa energia. Sou um cara muito positivo. Já não tenho mais força para fazer gols de fato, Cada defesa para mim deve ser comemorada como se fosse um gol.”