No primeiro aniversário do Hospital de Animais Silvestres Ayty, o Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul) celebra os resultados alcançados na recuperação e reabilitação da fauna local. Inaugurado em 14 de setembro de 2023, o Ayty se destaca pelo impressionante número de quase 3 mil atendimentos em seu primeiro ano de funcionamento, devolvendo à natureza diversas espécies que passaram por tratamentos intensivos.
O Hospital Ayty, vinculado ao Imasul, recebeu este nome inspirado na língua Tupi-Guarani, significando “cuidado” e “acolhimento”. Desde sua criação, a estrutura se consolidou como o maior e mais moderno centro de reabilitação de animais silvestres das Américas, cumprindo seu compromisso de se tornar uma referência em medicina veterinária silvestre e um pilar fundamental na preservação da biodiversidade do Estado.
Com um investimento expressivo de R$ 5.165.710,55 apenas na obra, o Governo de Mato Grosso do Sul viabilizou a criação de uma infraestrutura de ponta, destinada ao resgate, tratamento e reabilitação de animais silvestres vitimados por acidentes, tráfico e outras ameaças ambientais.
Foram aplicados mais de R$ 1 milhão na aquisição de equipamentos de última geração, assegurando que o hospital opere com os melhores recursos disponíveis.
A lista de equipamentos inclui mesa para anestesia, máquina de tosa para tricotomia, laringoscópio em LED, monitor multiparamêtrico com capnografia, bombas de infusão para equipo e seringa, aspirador cirúrgico com pedal e ponteira, além de uma incubadora para cuidados intensivos de filhotes.
Também foram adquiridas calhas cirúrgicas em três tamanhos, uma mesa cirúrgica de inox com dois motores e uma maca com carrinho em inox, garantindo segurança e precisão durante os procedimentos.
Hospital tem estrutura para atender diversas espécies da fauna, os reabilitando para o retorno à natureza (Fotos: Gustavo Escobar)
Para completar, o hospital conta com aquecedores a óleo para filhotes, mesa buck para raio-x, aparelho de ultrassom e uma autoclave de 21 litros horizontal digital, assegurando a esterilização dos instrumentos. O sistema de radiografia veterinária, junto com acessórios como ambu e traqueias, possibilita diagnósticos rápidos e precisos.
As dependências administrativas também foram completamente mobiliadas para proporcionar um ambiente funcional e confortável para os profissionais.
O hospital é uma das mais modernas e completas estruturas dedicadas ao atendimento da fauna no Brasil. Com uma área construída de 1.153,33 metros quadrados, o hospital foi projetado para oferecer um ambiente funcional e equipado para atender as diversas necessidades dos animais resgatados.
Sua estrutura inclui recepção, secretaria e lavabo, garantindo o suporte necessário para o público e profissionais, além de salas especializadas, como a sala de biólogos, sala administrativa, sala de veterinários e sala de ultrassom, que proporcionam um ambiente adequado para o trabalho científico e clínico. Conta também com ambulatórios e clínicas, além de dois laboratórios de patologia clínica, fundamentais para diagnósticos precisos.
Onça-pintada Miranda faz tratamento e se recupera para poder voltar o mais breve possível à natureza (Fotos: Saul Schramm)
O hospital foi planejado para ser acessível, com lavabos PNE (feminino e masculino) e vestiários, além de áreas de apoio como despensa e copa. A preparação de alimentos para animais em quarentena é realizada em uma sala específica, garantindo o cuidado necessário com a nutrição de animais em condições delicadas.
Para oferecer suporte médico contínuo, o hospital possui um quarto de repouso para o plantonista, farmácia, almoxarifado, e salas de controle e raio-x. A área cirúrgica é completa, equipada com salas de esterilização, antissepsia, preparação de pacientes e uma sala de cirurgia moderna, além de um setor de pós-operatório com toda a infraestrutura necessária.
Há cinco salas de triagem e áreas específicas para quarentena e cuidados de diferentes tipos de animais, como três salas de quarentena para aves, todas com solário, uma sala de quarentena para répteis, também com solário, e uma sala para mamíferos, igualmente equipada com um espaço ao ar livre. O hospital também dispõe de áreas de isolamento, que garantem um controle rigoroso de doenças, e uma sala de armazenamento de amostras, utilizada para pesquisas e diagnósticos contínuos.
Além disso, o Ayty conta com lavanderia, sala de necropsia e câmara fria, fundamentais para garantir a higienização e o manejo adequado de todas as atividades do hospital. Com essa infraestrutura completa, o Hospital Ayty não só atende aos mais variados casos clínicos, mas também se estabelece como um centro de referência em reabilitação, pesquisa e proteção da fauna silvestre, promovendo a conservação de espécies em risco e oferecendo atendimento de excelência.
“Com a vinda do hospital, a equipe ficou muito entusiasmada, pela estrutura e equipamentos, com ele podemos proporcionar um melhor atendimento para nossos animais, proporcionando exames e um lugar adequado para atendê-los. Melhorando muito a qualidade dos nossos atendimentos”, comentou a veterinária Jordana Torqueto.
Lobinhos resgatados perdidos em floresta (Foto: Divulgação/CRAS)
Atendimentos
O Hospital de Animais Silvestres Ayty, administrado pelo Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul), desempenha um papel crucial no resgate e recuperação da fauna local. Até o dia 6 de setembro deste ano, a unidade já prestou atendimento a 2.867 animais, uma clara demonstração da crescente demanda por cuidados especializados.
A maior parte dos atendimentos, cerca de 77,85%, foi dedicada às aves, totalizando 2.240 casos. Entre as espécies assistidas, destacam-se araras e gaviões, muitas vezes resgatados após incidentes de tráfico de animais ou colisões em áreas urbanas. Mamíferos, como onças-pintadas e tamanduás, compuseram 14,48% dos atendimentos, representando 415 animais. Esses resgates frequentemente resultam de incêndios, acidentes rodoviários e invasão de áreas urbanas.
Os répteis, por sua vez, somam 7,15% dos atendimentos, contabilizando 205 animais, incluindo cobras e jacarés que, com frequência, são encontrados em situações de risco em zonas habitadas. Outras espécies, como invertebrados e pequenos anfíbios, representaram 0,52% dos resgates, evidenciando a ampla gama de biodiversidade atendida pelo hospital.
André Borges, diretor-presidente do Imasul, destaca que os números refletem a eficiência e a infraestrutura oferecida pelo hospital.
“O Hospital veio para transformar o conceito de atendimento especializado à fauna silvestre. Mato Grosso do Sul, que abriga um dos maiores biomas do planeta, precisava de uma estrutura hospitalar à altura dessa grandeza. Com equipamentos de última geração e uma equipe altamente capacitada, estamos na vanguarda dos cuidados veterinários. Essa infraestrutura moderna não só permite o tratamento de animais vítimas de queimadas, tráfico e outros impactos ambientais, mas também amplia nossa capacidade de atender à crescente demanda por resgates e recuperação. Nosso objetivo é garantir que cada animal receba o melhor tratamento possível, preservando a biodiversidade e contribuindo diretamente para a conservação do nosso patrimônio natural”.
Filhote de veado é um dos animais que passam pela reabilitação do Hospital Ayty (Fotos: Álvaro Rezende)
Além de desempenhar um papel essencial no atendimento e reabilitação de animais silvestres, o Hospital também é uma importante plataforma de pesquisa e desenvolvimento na área da Medicina Veterinária Silvestre. Com uma estrutura moderna e bem equipada, o hospital se tornou um ponto de referência para estudos acadêmicos, colaborando ativamente com universidades e institutos de pesquisa de todo o país.
“Por meio da parceria entre o Hospital e a FAMEZ, poderemos oferecer um atendimento multidisciplinar aos animais, agregando à equipe do Ayty os conhecimentos dos docentes e técnicos de diversas áreas da medicina veterinária, como clínica e cirurgia anestesiologia e emergência veterinária, diagnóstico por imagem e diagnóstico de doenças”, comentou a professora Thyara Araújo, especialista em animais silvestres, da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul).
Essas parcerias permitem que novas técnicas e tratamentos sejam desenvolvidos, aprimorando o cuidado com espécies que, muitas vezes, apresentam quadros clínicos complexos e exigem abordagens inovadoras. Entre as áreas de pesquisa destacam-se o tratamento de queimaduras, muito comum em animais resgatados de incêndios no Pantanal, e o desenvolvimento de protocolos de manejo para espécies raras e ameaçadas de extinção, como as onças-pintadas e araras.
O Ayty também contribui para o avanço da tecnologia no campo da Medicina Veterinária Silvestre, utilizando ferramentas como radiografia digital, ultrassom e monitoramento multiparamétrico, que auxiliam no diagnóstico preciso e no acompanhamento do estado de saúde dos animais. Com isso, o hospital não apenas promove o bem-estar animal, mas também enriquece o conhecimento científico, capacitando profissionais e fomentando o desenvolvimento de técnicas de preservação e reabilitação cada vez mais eficazes.
Dessa forma, o Hospital consolida seu papel não só como um centro de recuperação de fauna, mas como uma instituição de vanguarda no avanço da ciência veterinária, contribuindo para a conservação da biodiversidade e a melhoria contínua dos cuidados com a vida silvestre.
O impacto do Ayty vai além das estatísticas. A cada animal recuperado e reintroduzido na natureza, o ecossistema de Mato Grosso do Sul se fortalece. As equipes do hospital permanecem dedicadas a garantir que o Hospital continue crescendo como um centro de excelência, promovendo a preservação da fauna e a conscientização sobre a importância de proteger o meio ambiente.
Com um ano de funcionamento, o Hospital Ayty já deixou uma marca significativa na conservação da biodiversidade e está preparado para continuar fazendo a diferença no cenário ambiental do Brasil.
Equipe do Gretap buscando por animais feridos para serem transferidos ao Ayty em Campo Grande (Fotos: Bruno Rezende)
Operação Pantanal
O Hospital de Animais Silvestres tem desempenhado um papel fundamental no apoio à Operação Pantanal 2024, que reúne as principais forças de segurança do Estado, como a Polícia Militar Ambiental, o Corpo de Bombeiros Militar, e o Grupo de Resgate Técnico Animal Cerrado Pantanal (Gretap). Essa ação coordenada, que também conta com o suporte da Defesa Civil e do Ibama, visa combater a situação crítica dos incêndios florestais que devastam o Mato Grosso do Sul, afetando não só a vegetação, mas também a fauna local.
Este período do ano é considerado o mais crítico em relação aos incêndios florestais, intensificados pelas condições climáticas e, infelizmente, por ações humanas. Desde maio, o Estado impôs a proibição total de queimadas, com todas as autorizações suspensas. Nenhum produtor rural, indústria ou cidadão está autorizado a realizar queimadas. A proibição busca conter os danos causados ao meio ambiente e proteger a biodiversidade.
A Operação Pantanal 2024 concentra seus esforços em várias frentes de combate, com equipes atuando em pontos localizados nos municípios de Coxim, Naviraí (no Parque Estadual das Várzeas do Rio Ivinhema), Terenos e Miranda. Outras áreas sensíveis, como a região de Paranaíba, Corumbá (incluindo o Passo do Lontra, Serra do Amolar, Porto da Manga e Forte Coimbra), Porto Esperança e Miranda (Salobra), além do Parque Estadual das Nascentes do Taquari, na divisa com o Mato Grosso, e Nabileque, também estão sendo monitoradas e protegidas pelas equipes de segurança.
Vítimas do fogo
O Hospital do CRAS atua diretamente no resgate e tratamento de animais silvestres afetados pelos incêndios, oferecendo suporte médico especializado e infraestrutura adequada para a reabilitação. Espécies como araras, onças e tamanduás, vítimas de queimaduras, desidratação e intoxicação pela fumaça, recebem cuidados intensivos no hospital, que se tornou um ponto de referência no enfrentamento dos efeitos colaterais das queimadas.
A integração entre o Ayty e as forças de segurança é essencial para garantir que os animais resgatados tenham a oportunidade de se recuperar e, em muitos casos, retornar ao seu habitat natural. Essa operação é um exemplo de ação coordenada e eficaz em prol da proteção do meio ambiente e da vida silvestre, reafirmando o compromisso do Governo Estadual com a preservação da biodiversidade diante dos desafios impostos pelos incêndios florestais.
O Hospital, com sua equipe especializada e equipamentos de última geração, tem sido crucial no tratamento de animais de pequeno e grande porte, símbolos do Pantanal, que foram vítimas dos incêndios florestais.
Gato-palheiro foi encontrado e levado para o Ayty (Fotos: Gustavo Escobar)
Órfãos
O Hospital acolheu dois filhotes órfãos de gato-palheiro, vítimas dos incêndios na região pantaneira. Um deles é particularmente raro por ser melânico, apresentando uma pelagem totalmente preta, condição genética incomum que ocorre esporadicamente em algumas espécies. Esses filhotes são monitorados de perto pela equipe veterinária, que trabalha para garantir sua plena recuperação.
Outro resgate recente foi o de um filhote de veado-catingueiro, encontrado durante um incêndio florestal na Aldeia Alves de Barros, entre Bodoquena e Bonito. Ele está sob monitoramento no Hospital, onde recebe cuidados intensivos de tratadores de filhotes, para garantir sua saúde e bem-estar.
Esses resgates são um testemunho da importância das operações de salvamento, que permitem que os animais afetados pelos incêndios recebam o tratamento necessário para sobreviver e, eventualmente, retornar à natureza. As equipes de resgate e os veterinários do Ayty trabalham incansavelmente para reabilitar esses animais, enfrentando os desafios impostos pelos incêndios florestais que ameaçam a fauna do Pantanal.
Símbolos
Pelo Hospital do CRAS passaram animais silvestres que se tornaram verdadeiros símbolos da luta pela preservação da fauna pantaneira. Entre eles, está se destacando o tamanduá Armandinho, os dois filhotes de gato-palheiro, a onça Miranda e Antã (in memoriam), o filhote de veado-catingueiro, dois lobinhos, entre tantos outros. A maioria dessas vidas foi impactada por incêndios florestais que devastaram a região do Pantanal.
O Hospital do CRAS tem sido palco de histórias emocionantes de superação, onde cada animal resgatado se transforma em um emblema de esperança. Armandinho, o tamanduá, hoje está sendo a personificação a força e a resistência da fauna pantaneira.
Ao lado dele, os dois frágeis filhotes de gato-palheiro representam a renovação da vida selvagem, trazendo a promessa de continuidade para as gerações futuras. Já Miranda, a onça-pintada, permanece em tratamento, lutando para superar os ferimentos causados pelo fogo, enquanto Antã, simboliza a vulnerabilidade dessas espécies diante das ameaças.
Entre eles, o filhote de veado-catingueiro e os dois lobinhos também narram histórias de resiliência, todas testemunhas do cuidado e da dedicação incansável dos profissionais do Imasul, que lutam dia após dia pela preservação da fauna pantaneira.
Gustavo Escobar, Comunicação Imasul
Foto de capa: Saul Schramm